Irmã Maria Cristina, responsável pela introdução do Método Montessori-Lubienska no Colégio Sion de Curitiba, nos deixa aos 89 anos depois de mais de
65 anos de dedicação à vida religiosa e à educação
A flor-símbolo de Sion é a violeta. Pelas mãos dedicadas de Martha Marques, mais conhecida como Irmã Maria Cristina, o jardim do tradicional Colégio Nossa de Sion cresceu e se desenvolveu. Hoje (14 de junho de 2020), porém, este jardim perdeu sua violeta mais vistosa e bela.
Soeur Cristina morreu de causas naturais e de forma tranquila em sua casa, no Colégio Sion, cercada de amor, cuidado e carinho. Nascida no estado de Minas Gerais, na pequena cidade de Carangola, Irmã Maria Cristina se tornou curitibana de coração. Chegou em nossa cidade em 1956 trazendo sua rica bagagem pedagógica e com a missão de educar e formar pessoas.
Falar de Irmã Maria Cristina é falar do Colégio Sion
As histórias da pessoa dedicada e da instituição fundem-se em uma missão vocacional nobre: desenvolver seres humanos integrais, que prezam os valores éticos, e morais, sem perder de vista a busca pela espiritualidade e a tão necessária formação cidadã.
Os caminhos de Soeur Cristina e de Sion se cruzaram quando, aos 11 anos de idade, ela ingressou no Colégio Sion de Petrópolis (RJ). Em regime de internato, lá permaneceu até os 20 anos.
Desde aqueles tempos, já aflorava sua vocação para o noviciado que, segundo ela, foi uma das mais interessantes fases da sua vida. Após a conclusão dos estudos no Colégio, cursou Geografia, História, Artes, Teologia e especializou-se em Orientação Educacional.
Nossa Diretora desde a década de 60
Nessa época, o Colégio passou por uma reformulação e a direção foi assumida pela Irmã Maria Cristina, que tinha um grande objetivo a cumprir: oferecer educação cristã de qualidade ao maior número de crianças. Já começou inovando: de instituição exclusivamente para meninas, o Sion passou a aceitar o ingresso de alunos de ambos os gêneros.
Estimulada pela renovação da Igreja promovida pelo Papa João XXIII, com o Segundo Concílio do Vaticano, Soeur Cristina também voltou o olhar para a educação cristã de um número maior de pessoas pertencentes a faixas sociais diversas. Passou a oferecer bolsas de estudos a alunos de menor poder aquisitivo e surgiu a Escola Comunitária Professor Joaquim Franco, que atendia crianças até o 5º ano. Posteriormente, criou a Casa da Paz e assumiu a manutenção do CEI – Irmã Isabel.
Estágio com Lubienska, discípula de Montessori
Durante mais de 50 anos à frente do Sion como diretora geral, Irmã Maria Cristina chegou a Curitiba com os olhos brilhando pelos ensinamentos recebidos do seu período de noviciado no convento de Grambourg, na França, de 1952 a 1956. Lá, fez estágio por três anos com ninguém menos do que Hélène Lubienska de Lenval, discípula direta de Maria Montessori. Lubienska a fez enxergar a importância da integração da educação intelectual com a formação de cidadania.
Com esses conceitos na teoria, lá foi Soeur Cristina para a prática. A missão era alfabetizar crianças pelo Método Montessori. Ela nos relembrou uma passagem quando a inspetora vinha ao final do ano para fiscalizar as atividades realizadas com os alunos:
“Eu fui premiada, graças a Deus, foi mesmo um sonho que eu realizei e que as crianças caminharam comigo. Nada me faltou, as crianças sempre me correspondendo e as que saíam vinham com muito amor. Eu não posso desejar mais nada” – Irmã Maria Cristina
“As crianças eram novas e já sabiam ler, uma verdadeira satisfação: lembro que, quando a inspetora foi embora, dei um bombom para a menina que falava mais e disse: – Você brilhou! A criança olhou para aquela que não tinha feito nada, que estava sentada num cantinho e deu o bombom para ela. Aquilo para mim foi a glória! Realmente nós formamos pessoas de caráter” – Irmã Cristina, 2016
Quebra de paradigmas com a introdução do Método Montessori
Além disso, Irmã Maria Cristina teve que quebrar muitos paradigmas. Se hoje o Método Montessori é aclamado mundialmente como metodologia que forma o ser humano integralmente, na década de 1960 conceitos como lanchar no chão, ausência de carteiras convencionais e avaliação do aluno diferenciada chocaram os pais curitibanos. “A implantação do método foi muito difícil, no princípio, para os pais aceitarem uma metodologia que eles não conheciam”, contava.
O Método Montessori prevê um programa individualizado de ensino para os alunos que escolhem os materiais – específicos para a estimulação sensorial – com que vão trabalhar. Durante o aprendizado a criança é incentivada a desenvolver o senso de responsabilidade e a autoconfiança e, ainda, a manter a disciplina sem perder a autonomia. Nesse contexto, o professor age como um mediador e se encarrega de identificar e trabalhar as dificuldades de cada criança.
“A verdadeira felicidade é construída devagar e, por vezes, passando por momentos dolorosos que, se amparados adequadamente, se transformam em lições e fortalecem a criança, gerando recursos para ser feliz” – Irmã Maria Cristina
Na década de 70, Irmã Maria Cristina vem com outra inovação: adotar uma proposta complementar na educação de seus alunos, o Ramain. Baseado em exercícios psicomotores, gráficos, manuais e movimentos executados em grupo, integra os aspectos intelectual, afetivo e motor e se propõe a desenvolver habilidades como foco, organização, inteligência emocional e perseverança.
Respeito às diferenças, um valor de Sion
Para Soeur Cristina, as crianças que aprendem desde cedo a respeitar as diferenças são mais felizes, pois conseguem ultrapassar barreiras, se aceitarem e respeitarem os outros com suas diferenças e, assim, aprendem a lidar com as frustrações comuns do convívio social.
Cada desafio e barreira enfrentados pela criança geram alegria e satisfação, pois muitas vezes vêm acompanhados de empenho e perseverança. “O sucesso conquistado após um esforço ajuda a criança a desenvolver o valor da felicidade. Mas é importante lembrar que os fracassos também são essenciais para um desenvolvimento pleno, pois assim a felicidade é construída de forma sólida. A verdadeira felicidade é construída devagar e, por vezes, passando por momentos dolorosos que, se amparados adequadamente, se transformam em lições e fortalecem a criança, gerando recursos para ser feliz”.
A continuidade de um legado
Com um sorriso doce e um olhar firme, Irmã Maria Cristina esteve presente e disponível para acolher, ouvir e orientar. Fazia questão de reunir professores e coordenação para partilhar seus ensinamentos.
Durante esta caminhada escolheu e formou uma equipe de Direção e Coordenação sólida e enraizada nos pilares da educação em Sion: Montessori/Lubienska/Ramain, com valores cristãos, do carisma da Congregação de Nossa Senhora de Sion.
Para quem fica na ausência e saudade da figura marcante da Irmã Maria Cristina, a missão agora é dar continuidade ao seu legado. Já há alguns anos afastada da direção do Colégio Sion, a sucessão de todo seu espírito permeia a sua equipe.
Atualmente, o Sion é gerenciado sob forma de colegiado, pelo qual as diretoras Magda Lopes Bacellar, Juliana Pedroso, Luciana Suplicy Gonçalves e Sandra Sfair traçam estratégias em conjunto. Magda Lopes Bacellar é responsável pelo Integral Batel, enquanto Juliana Pedroso é responsável pela equipe de Comunicação e Marketing, Luciana Suplicy Gonçalves pela Educação Infantil Solitude e Sandra Sfair é vice-diretora na sede Solitude.
Para Juliana Pedroso, Irmã Cristina é exemplo de amor, coragem e persistência. “Uma das pessoas mais importantes da minha vida, me ensina todos os dias sobre o belo, a compaixão, ousadia, acolhimento e humanidade. Sempre teve um olhar especial para cada um.”
Já Magda Lopes Bacellar vai sentir falta de sua presença amorosa, de suas palavras sábias, de sua força e luta por uma educação pela vida, em busca do humano pleno, de formar nossos jovens para “excelência humana”.
Luciana Suplicy Gonçalves, por sua vez, relembra a inspiração que Ir Maria Cristina sempre transmitiu a todos para que educássemos os alunos para enxergarem o outro, voltados ao amor e à paz e que fossem sempre verdadeiros.”
Sandra Sfair, grande amiga, esteve desde o início ao lado dela nessa caminhada.
SERVIÇO
Irmã Maria Cristina será velada na Capela do Colégio Nossa Senhora de Sion e o sepultamento acontece no mesmo dia às 15 horas no Cemitério Municipal São Francisco de Paula (Praça Padre João Sotto Maior – São Francisco).
Em virtude da pandemia, o velório será restrito a familiares e, infelizmente, sem permissão de entrada do público.